Cinco Câmeras Quebradas

Marcel Duarte
3 min readJan 12, 2020

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A resistência não violenta dos Palestinos

Imagem de hosny salah por Pixabay

Hoje, uma vez mais, vemos as noticias de misseis e bombas que voam, caem e destroçam corpos numa parte distante do globo. Ameaças de uma nova guerra no oriente médio. Renova-se o medo, o ódio e o preconceito espalhados pelos jornais, televisões e redes sociais. Nosso infeliz governo já se pronunciou: somos contra o terrorismo. Mais uma vez uma simplificação barata da realidade. Nada de novo no covil de lunáticos.

Esse texto, entretanto, não é exatamente sobre esse novo conflito no Irã, mas a violência desvelada momentaneamente pela grande mídia o convoca à publicação.

Mais do que uma resenha, talvez, o intuito aqui seja convocar o leitor à reflexão, seja lançar um pedido de empatia.

“As feridas esquecidas nunca se curam. Então filmo para curá-las. Sei que podem chamar à minha porta em qualquer momento, mas eu continuarei filmando. Me ajuda a enfrentar a vida, a sobreviver”

O documentário “Cinco Câmeras Quebradas” é, mais do que qualquer outra coisa, uma possibilidade de romper os muros de preconceito que envolvem a questão palestina, e mostrar a vida dos seres humanos que sofrem diariamente com o conflito.

Esse filme é fundamental para todos, mas principalmente para aqueles que até hoje não conseguem pensar na Palestina sem, automaticamente, vincularem seu raciocínio ao terrorismo.

Através das lentes de Emad Burnat, um pequeno agricultor do vilarejo de Bil’in, na Cisjordânia, acompanhamos a tentativa da comunidade de interromper as escavadeiras israelenses que avançam ilegalmente sobre suas terras para a construção de um grande assentamento judeu. Mas não vemos aqui homens carregando metralhadoras ou bombas, não vemos rostos cobertos, ou qualquer outro senso comum que remeta à figura do temido terrorista árabe.

“Manter os ideais de não violência não é fácil quando estás rodeado de tanta morte”

Photo by Dan Meyers on Unsplash

Durante o filme acompanhamos o crescimento de Gibreel, filho de Emad. Testemunhamos a preocupação do agricultor com o futuro do filho, com a necessidade de ensiná-lo sobre sua comunidade, de torná-lo um “homem forte”, mas também de protegê-lo de toda a violência. É Gibreel, uma criança de quatro anos, quem nos mostra numa conversa com seu pai, como é difícil a tarefa de tentar interromper a reprodução de um ciclo de violência e ódio. Talvez a fala mais honesta e crua de todo o filme:

Papai, por que você não mata os soldados com uma faca?

Porque me matariam a tiros.

Porque haveria mais?

Haveria mais soldados, sim. Por que você quer machucá-los?

Porque mataram o tio Phil. Por que o mataram? O que ele fez?

Ao assistir o documentário facilmente nos sensibilizamos. Nosso convite é apenas para que você se desnude de qualquer tipo de preconceito que envolva a questão, e se permita sentir e se identificar com aquela gente. Talvez, as inúmeras bandeiras brasileiras que aparecem durante o filme (devido à Soraya, mulher de Emir, ter crescido no Brasil) nos ajudem a entender que, talvez, a luta dos brasileiros é a mesma que a dos Palestinos.

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Marcel Duarte
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Written by Marcel Duarte

Um cara mal-ajambrado; coletor de reminiscências.

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